sábado, 9 de maio de 2009

Etapa n.º2 da P2 - ALBERTO CAEIRO

"(...) pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática
Fernando Pessoa

MEMÓRIA DESCRITIVA – TIPOGRAFIA ALBERTO CAEIRO

Características do heterónimo
Alberto Caeiro é uma personagem criada por Pessoa para exprimir o que este tinha em si de contemplativo, de mero observador da Natureza. Em poucas palavras podemos descrevê-lo como o poeta que foge para o campo tentando viver na mais absoluta depuração, como as flores, os regatos, os prados... Admira a Natureza e busca atingir a impassibilidade dos elementos naturais, incapazes de reflectir e questionar o mundo. O seu lema é “o que parece assim é”, simplificando o universo em seu redor.

Fernando Pessoa chamou a Caeiro o seu mestre (“Sou também discípulo de Caeiro…” Orpheu2), pois ele era aquilo que Pessoa não conseguia ser: alguém que não procura qualquer sentido para a vida ou o universo, porque lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento. Vive, assim, exclusivamente de sensações e sente sem pensar.

Explanação da tipografia
A composição tipográfica referente a Alberto Caeiro pretende, ao invés do que fiz com Ricardo Reis, reflectir mais sobre o que representava a sua personagem em si relativamente aos demais heterónimos, do que o poema usado para a mesma. Podemos observar, sobre um fundo negro, o vulto de um homem que caminha - essa personagem pretende ser Caeiro - seguido de duas outras personagens, outros heterónimos pessoanos.

Assim, o seu delineamento foi feito com parte do poema “O guardador de rebanhos” que, na minha opinião, é dos poemas que mais revela acerca do seu autor. Já o seu interior foi preenchido com o poema sugerido na proposta: “ Um Renque de Árvores”. Atrás da figura em destaque surgem duas outras que pretendi que tivessem menor relevância: por estarem atrás da primeira, por terem menores dimensões, por obterem tonalidades cada vez mais escuras parecendo que se dissipam no fundo e por não terem o seu interior preenchido. Estas técnicas foram usadas na tentativa de passagem de uma mensagem que envolve toda esta composição: Caeiro é o mestre de todos os heterónimos de Pessoa, e até dele mesmo.

A poesia de Caeiro é uma espécie de expressão espontânea, bastante instintiva, baseada em sensações, não fosse ele o criador do sensacionismo. Nos vários poemas deste heterónimo pessoano, há a referência à contemplação da natureza, ao vaguear com o seu rebanho como algo involuntário. Foi um pouco disso que pretendi transmitir com a imagem de Caeiro a caminhar, como que contemplando o que a natureza tem para lhe dar, com a sua “ciência de ver”. Baseei-me numa imagem típica de Fernando Pessoa, como se pode identificar pelo chapéu e característico andar, de modo a que quem observe a minha composição tipográfica possa de modo automático associá-la ao poeta. Após essa ligação as devidas reflexões deverão ser feitas na pessoa de Caeiro.

Para finalizar, e referindo-me agora mais a Fernando Pessoa do que a Caeiro (pois este foi o mais aproximado daquilo que Pessoa pretendia ser, daí referir-me a ele nesta etapa, até porque não há como separar Pessoa dos heterónimos) tomo nota de duas outras abordagens que pretendi através da tipografia. Em primeiro lugar, que do negro do tempo em que Pessoa viveu, sobressaiu por entre a escrita da época pela sua genialidade, daí as letras brancas em contraste com o fundo preto. E em segundo, porque foi muitos num só, daí a multiplicação da personagem atrás de si, dos quais Caeiro é o mestre.

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