terça-feira, 12 de maio de 2009

A percepção da cor

"As cores não estão “lá” no mundo, nem são (como sustentava a teoria clássica) um correlato automático do comprimento de onda, mas são construídas pelo cérebro."
Sacks
Depois de uma contextualização ao nível da teoria mais básica da cor, passemos a outra abordagem igualmente significativa nos pilares do conhecimento do nosso tema de estudo: a percepção da cor.

No livro "Universo da Cor", Israel Pedrosa afirmava que “A cor não tem existência material. Ela é, tão somente, uma sensação provocada pela acção da luz sobre o órgão da visão”. Tentando explorar esta ideia vejamos a lista que se segue, na qual se pretende que se diga as cores de cada palavra e não que se leia cada palavra. Este é um exemplo simples, prático e divertido da ligação do nosso cérebro com a percepção que obtemos das cores.

Como explicar o ocorrido? O que acontece é que o lado direito do nosso cérebro tenta dizer a cor e o lado esquerdo é responsável por ler a palavra. Quando estes hemisférios entram em conflito, reunindo dois tipos de informação contraditória, o lado esquerdo insiste em ler a palavra.

Porque é que tal acontece?
Ao ver uma palavra familiar, como “amarelo” o cérebro começa a processar o significado correspondente, mesmo que o tentemos ignorar. Este processamento choca com as ideias de cor que se tentam introduzir na consciência. O lado direito tenta dizer a cor, mas o lado esquerdo insiste em ler a palavra, demonstrando “o poder do pensamento inconsciente: os módulos de linguagem do cérebro não podem deixar de interpretar os significados das palavras, por muito que nós tentemos ultrapassar essa influência”. É necessário um grande esforço de concentração e atenção para a informação lida não se impor.

O nosso cérebro é, de facto, algo fantástico.

Despertada já a curiosidade a partir do exemplo supramencionado, importa reflectir sobre a percepção que temos da cor, explicitando como o olho pode detectar e classificar as cores que lhe chegam, numa perspectiva teórica do tema.

Luciano Guimarães em “A cor como informação” apresentava o olho como «uma “câmara obscura” dotada de um “jogo de lentes”, que converge os raios luminosos para a parede interna oposta ao orifício, captando, desta forma, a imagem». (Guimarães, 2001:21).
No fundo do olho existem milhões de células especializadas em detectar as longitudes de onda existentes no universo. Estas células, principalmente os cones e os bastonetes, percorrem as diferentes partes do espectro de luz solar e transformam-nas em impulsos eléctricos, que são enviados directamente ao cérebro através dos nervos ópticos, criando a sensação da cor. Podemos então afirmar que os olhos são os sensores e o cérebro o processador.

As cones e os bastonetes são parte essencial do processo de percepção da cor, já que são células foto-receptoras. Existindo uma série de grupos de cones que apenas distinguem o azul, outros o vermelho, e outros o verde, é na interacção entre estes que ser humano consegue distinguir toda a vasta gama de cores. É a falta de um destes grupos de cones que leva ao daltonismo, que pode ser facilmente detectado com a percepção que a pessoa tem da imagem abaixo.

Após entendermos como percepcionamos as cores, gostaria de acrescentar outro aspecto curioso que nos é apresentado por Luciano Guimarães. Segundo este autor, «determinadas cores têm melhor “leitura” na periferia enquanto outras têm na região central da retina», ou seja, «a distribuição das células sensíveis a cada cor determina áreas específicas de predominância, o que pode também ser bem utilizado como produto de informação visual». (Guimarães, 2001: 27). Exemplo disso é o caso dos semáforos de trânsito, na qual a simbologia das cores se revela fulcral. Mas, ao contrário do que possamos pensar, não só a simbologia é importante, os semáforos são eficientes e adequados também devido às «cores formadas pelo canal verde-vermelho [serem] mais bem percebidas à distância», uma vez que este canal é mais central que o azul-amarelo. (ibidem)

Outra curiosidade que me parece igualmente interessante de referir é a relação entre os conceitos que temos de determinadas cores e os factores biofísicos da percepção da cor. Segundo o mesmo autor, determinado pelo fenómeno da aberração cromática «"os raios luminosos vermelhos são focalizados mais posteriormente que os raios luminosos azuis”, e os olhos escolhem qual está em melhor foco». Assim sendo, derivado destes factores biofísicos, «surgem conceitos como a tranquilidade do verde e do azul e a agressividade e passionalidade do vermelho» (Guimarães, 2001: 39).

A simbologia e psicologia das cores, por me parecer um assunto bastante relevante no estudo do tema cor, virá a ser aprofundado num próximo artigo.

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