quarta-feira, 13 de maio de 2009

A COR: PREFERÊNCIAS E SIMBOLOGIA

Com fundamentos em Michel Pastoureau ("Dicionário das cores do nosso tempo") e "Color in Motion" de Maria Cláudia Cortés

«A cor é qualquer coisa de indefinível», assim começa por nos apresentar o tema da cor Michel Pastoureau. Tal como já havia referido, com este artigo pretendo enquadrar o assunto da cor na sua perspectiva cultural, ou seja, a sua inserção nas diversas sociedades. Foi neste autor que encontrei uma base de sustentação: «A cor é um produto cultural; não existe se não for percebida, isto é, se não for, não apenas vista com os olhos, mas também e sobretudo descodificada com o cérebro, a memória, os conhecimentos, a imaginação» (Pastoureau, 1997: 66), denotando-se aqui um relacionamento com a percepção da cor, já por mim abordada.

É interessante analisarmos as preferências em relação à cor nas diversas sociedades e compreendermos que são diferentes, resultado de culturas distintas. «Qual é a cor preferida do leitor? O azul, provavelmente. Isso é verdade em relação a, pelo menos, metade das pessoas» (idem: 136), é deste modo que somos estimulados a entender este fenómeno.

Após a Segunda Guerra Mundial, cerca de 50% das pessoas interrogadas, na Europa Ocidental, Estados Unidos e Canadá, citou o azul em resposta à questão mencionada. De seguida veio o verde, reunindo cerca de 20% das preferências, e depois o vermelho (10%). «As outras cores situam-se muito abaixo, com algumas variantes segundo os países e as décadas» (idem: 136), mas estes são os resultados para a população adulta.

Importa salientar que apesar de «não haver grande influência das classes e dos meios sociais, e mesmo das actividades profissionais sobre as respostas obtidas», a idade regista uma diferença bastante pertinente. A conclusão geral retirada é que «gosta-se das cores quentes quando se é pequeno, refere-se as cores frias quando se chega à idade adulta» (idem: 137), podendo contudo sofrer algumas variações consoante o período de tempo estudado.

A par da idade, também o país é uma variável essencial no estudo das preferências da cor das sociedades. «A Europa apresenta, em matéria de cores, uma homogeneidade cultural notável» (idem: 138), além disso, na Europa Ocidental, na América do Norte, na Austrália e Nova Zelândia, «o azul é citado antes do verde», com uma excepção: «a Espanha, onde é o vermelho que vem à cabeça, antes do azul e amarelo», este último bastante desprezado em bastantes outros países, como Portugal.

Mas a escala de valores cromáticos europeus, apesar de dominar nas zonas referidas, não abrange todo o território, isto é, existem grandes discrepâncias relativamente a outros lugares, em que a situação é bastante diferente. No Japão, por exemplo, «o vermelho vem à cabeça (40%), à frente do preto (20%) e do branco (10%)». (idem: 139). Este caso levanta sérias questões em relação à publicidade de firmas multinacionais japonesas, uma vez que se vêem necessitadas a adoptar estratégias diferentes quanto ao mercado interno e à exportação. Um exemplo ilustrativo deste problema: «algumas grandes firmas de material fotográfico (Canon, Nikon, Fuji) lançaram recentemente no mercado estojos baratos e coloridos (amarelos, azuis, vermelhos), em vez do tradicional preto. Estes estojos de cores vivas tiveram o previsto sucesso na Europa e nos Estados Unidos, mas não tiveram qualquer sucesso no próprio Japão» (idem: 139).

Assim se revela a necessidade de primeiro conhecermos o meio envolvente, que pretendemos atingir, e depois adaptarmos estratégias de comunicação que se revelem de acordo com esse meio e cultura correspondente. Caso contrário, a mensagem visual não vai ter o impacto esperado, é necessário estar a par das variações culturais.

Contudo, apesar destas diferenças a nível local, algumas cores registam características universais, que se coadunam com o background psicológico e cultural do indivíduo.
Analisemos então algumas cores e alguns dos seus significados, sabendo desde já que cores quentes tendem a estimular sentidos, e as cores frias a acalmar, actuando de forma relaxante.
VERMELHO
Alguns aspectos simbólicos relacionados com o vermelho: cor do signo, do sinal, da marca; cor do perigo e da proibição; cor do amor e do erotismo; cor do dinamismo e da criatividade; cor da alegria e da infância; cor do luxo e da festa; do sangue e do fogo-

AMARELO
Em termos simbólicos, é a cor da luz e do calor, da prosperidade e da riqueza, da alegria e da energia, da doença e da loucura, da mentira e da traição, do declínio, melancolia e do Outono.

AZUL
Como já referido é «a cor preferida de mais de metade da população ocidental» (idem: 23) e remete para o infinito, longínquo, o sonho, é a cor da fidelidade, do frio, da frescura, da água, ligada à aristocracia.
VERDE
«É uma cor ambivalente; é ao mesmo tempo a cor da fortuna e do infortúnio, da ventura e da desventura» (idem: 157) Cor do destino, da fortuna, do dinheiro, do acaso e da esperança; cor da natureza, da ecologia, da higiene, da saúde, da frescura; da permissão e da liberdade.

ROXO
Ligado à realeza e espiritualidade, tem uma qualidade romântica e feminina. Relacionado com a luxúria, sofisticação, classe, misticismo… Na Tailândia é usado pelas viúvas, ao invés do nosso preto.
COR-DE-LARANJA
Associado ao cítrico, «É com uma regularidade notável que o cor-de-laranja – que pode, no entanto, ser um sinal de saúde e de dinamismo – aparece em último ou em penúltimo na escala das preferências» (idem: 67). O ambiente cor-de-laranja faz as pessoas falar e pensar, propicia a amizade e o divertimento e é ainda usado para melhorar a visibilidade.

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