domingo, 10 de maio de 2009

Etapa n.º3 da P2 - ÁLVARO DE CAMPOS

"(...) pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida
Fernando Pessoa


MEMÓRIA DESCRITIVA – TIPOGRAFIA ÁLVARO DE CAMPOS

Características do heterónimo
Engenheiro naval e viajante, o heterónimo pessoano Álvaro de Campos é um vanguardista cosmopolita que exalta poemas em tom futurista acerca da civilização moderna e os valores do progresso. Procura incansavelmente “sentir tudo de todas as maneiras”, através dos mecanismos e da velocidade, daí ser apelidado como o “poeta da modernidade”. Com um estilo delirante e violento, aclama a civilização industrial e mecânica, numa atitude escandalosa, transgredindo a moral estabelecida.

Explanação da tipografia
Tal como fiz nos anteriores heterónimos de Fernando Pessoa, utilizei a letra para comunicar o poema em questão - “Ode Triunfal” – e um pouco da personalidade de Álvaro de Campos na sua fase modernista, onde desfrutou da experiência vanguardista. A escolha dos tipos de letra a incluir na composição gráfica é fulcral na realização deste projecto. Assim sendo, pretendendo dar a ideia de fúria que o poeta sentia pelas máquinas, escolhi letras em tons carregados, escuros e pouco esféricos. Mas, tal como nos anteriores heterónimos, concentrei-me na manipulação das letras de modo a dar-lhe sentido consoante a posição e as formas que ocupam no nosso campo.


A energia explosiva das estrofes “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!”acabou por guiar todo meu o projecto tipográfico. Rodas e engrenagens saltaram como as palavras que faziam todo o sentido para a representação da sua personalidade nesta etapa futurista. Assim, usei o eterno “r-r-r-r-r-r-r”para a delimitação das três engrenagens na tentativa de transmitir algum movimento e tridimensionalidade. As formas circulares, presentes quer nas engrenagens, quer nos versos que as rodeiam, pretenderam dar a ideia de velocidade, de máquinas, da energia expansiva dos mecanismos, da agitação a que o poeta se rendeu. Demonstram também o ritmo nervoso, a emoção descontrolada, a necessidade de, identificando-se com os “maquinismos”, “ser completo como uma máquina”.


Além destes aspectos que já referi, tenho que salientar a escolha da cor de fundo: cinzento-escuro. Esta escolha não foi tomada ao acaso, até porque a próxima proposta é relativa à cor e, portanto, tomei este factor como algo importante a relevar nesta composição. Álvaro de Campos refere ao longo da sua “Ode Triunfal” a poluição física e moral da vida moderna, o que por si só nos remeteria para tons cinzentos-escuros por representar a mentira e hipocrisia tão criticada nos versos de Campos. Mas, além disso, pesquisando um pouco mais acerca desta cor vemos que ela acusa gravidade, desespero, tal como o heterónimo pessoano tem por “sentir tudo de todas as maneiras”. Revela ainda vontade de não deixar nada por terminar, o que caracteriza a fase culminar da vida do poeta.


Para terminar gostaria de reafirmar que é bastante difícil representar tudo aquilo que Álvaro de Campos foi numa pequena tipografia, ainda por cima sendo eu uma grande admiradora do mesmo. Ainda assim, penso que a modernidade e a fúria que sentiu por viver acabam por ficar bem patentes nas engrenagens desenhadas através de alguns dos seus versos.

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