sábado, 21 de março de 2009

Etapa n.º4 da P1 - A fundamentação de um possível produto final

INTRODUÇÃO
A proposta de trabalho n.º 1 da unidade curricular de Design e Comunicação Visual trata-se, muito resumidamente de, tendo como tema de trabalho uma música à nossa escolha, elaborar uma composição que seja a interpretação visual do tema escolhido. De acordo com a matéria teórica que temos vindo a abordar nas aulas, deveríamos ter em conta os elementos básicos da comunicação visual, bem como as técnicas da mesma. Trata-se fulcral fazer uma memória descritiva de todo o trabalho desenvolvido e, principalmente, uma explicação de um possível produto final.

A CAPTAÇÃO DA MENSAGEM
Para fazer uma boa composição visual é necessário saber direccionar o olhar da pessoa que o vai observar, pelo que o desenvolvimento da composição deve ser consciente e planeado de modo a atingir-se os objectivos estabelecidos, neste caso o objectivo fundamental é que a mensagem da música seja transmitida visualmente. Os elementos visuais sendo a substância básica daquilo que nos rodeia devem ser combinados através das técnicas visuais. Como dizia D. A. Dondis: “A forma expressa o conteúdo. A mensagem e o método de expressar dependem consideravelmente da compreensão e capacidade de usar técnicas visuais: as ferramentas da composição visual.”
Em primeiro lugar, tornou-se importante ouvir a música indefinidas vezes de modo a captar o seu sentido oculto, ou pelo menos dar-lhe um sentido pessoal que já estava razoavelmente definido por ser uma música que a mim já me dizia muito. De seguida tratou-se de um trabalho por fases, pelo que o possível produto final que apresento foi uma evolução de uma ideia inicial simples que foi sendo desenvolvida e completada à medida que a imaginação e ideias fluíam.

A ABSTRACÇÃO/DESCONTRUÇÃO DA REALIDADE
Aristóteles dizia que “a finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não copiar a sua aparência.”. Também Pablo Picasso partilhava a mesma ideia: “Eu não pinto as coisas como as vejo, mas sim como as penso.”. Tendo em conta estas duas referências, e também Mondrian, que foi objecto da minha análise crítica, optei por não fazer algo muito “apegado” ao real. Com isto quero dizer que tentei recriar visualmente, através do simbolismo de vários elementos da composição, os sentimentos e emoções trazidos com a música. Penso que esta escolha faz todo o sentido, uma vez que as emoções não são palpáveis na realidade, pelo que a realidade não transmite de modo directo as mesmas. Ainda assim, o que para mim significa uma coisa, pode significar algo diferente para outra pessoa. Aqui reside a riqueza mas também ambiguidade deste projecto, daí a necessidade inquestionável de uma justificação da composição elaborada. Passemos à explicação dos elementos e técnicas visuais utilizadas, não esquecendo que “a arte é a expressão dos mais profundos pensamentos da maneira mais simples”(Albert Einstein).

A DEFINIÇÃO DA "HISTÓRIA"
Faço aqui um parêntesis explicativo do que representa a música “Secret Smile” dos Semisonic, que sentimentos suscita, que possibilidades me abre no campo visual que acabam por justificar os elementos e técnicas de comunicação usados.
A música está bastante relacionada com o amor e a afectividade. É como que um apelo por parte de uma personagem a que a outra (“ela”) torne a sua vida melhor: “Remove this whirling sadness / I’m losing, I’m bluesing/ But you can save me from madness”. É como se “ela” tivesse algo de mágico, aliás, ela é a última esperança “dele”: “When you are flying around and around the world / And I'm lying alonely / I know there's something sacred and free reserved / And received by me only”. Existe algo único entre “eles” uma vez que, “Nobody knows it but you've got a secret smile / And you use it only for me”. O sorriso é aqui tido com sentido figurativo, pelo que outros sentimentos estão aqui denotados.

ELEMENTOS E TÉCNICAS UTILIZADAS E SUA JUSTIFICAÇÃO PERANTE A MENSAGEM DA MÚSICA
Porque “criatividade não significa improvisação sem método” (Bruno Munari) explicito os elementos e técnicas usadas que foram a solução à pergunta: como transmitir simbolicamente a mensagem da música?
Começando a análise pela parte superior da primeira composição vemos vários círculos geometricamente organizados. Tais elementos pretendem representar a sociedade, denotando-se que dois se diferenciam dos restantes, querendo tal identificar as “personagens” da música (irregularidade/acento – “la atmósfera de neutralidade es perturbada en un punto por el acento, que consiste en realzar intensamente una sola cosa contra un fondo uniforme” Dondis). O facto de serem iguais em termos de escala transparece a ideia de que são apenas “dois entre a multidão”, ou seja, passam despercebidos no seio da sociedade. Apesar de não serem nada sozinhos, são tudo quando isolados, daí a separação entre a parte superior e inferior da composição (tempos diferentes) e também daí o facto de os dois círculos que os representam estarem no canto inferior direito, o mais próximo possível do enquadramento. O uso da cor branca no círculo esquerdo dá a aparência de ser maior que o outro (uso da escala), o que significa parte da mensagem da música - ela é tudo para ele! Ele não pode viver sem ela! Contudo, o círculo “dele” encontra-se fragmentado (uso da fragmentação) uma vez que neste momento da música ele ainda apela à sua ajuda. O uso do círculo em detrimento de outras figuras geométricas não foi escolha ao acaso, pelo que este elemento representa “sinal supremo de perfeição” (dicionário de símbolos), podendo ainda estar associado à forma da face de um indivíduo. Mas o simbolismo atinge o seu auge no uso do elemento fogo. “O fogo pode ser visto como uma força de purificação: destrói, limpa, purifica”, estando portanto relacionado com as estrofes: “Remove this whirling sadness…”. Consome, aquece e ilumina! A luz pelo fogo emanada pode também ser aqui analisada. “Simbolicamente está associada à vida, à felicidade, contrariamente à escuridão”. Pessoalmente, também eu relaciono o fogo ao amor, à paixão triunfante, ao poder e glória. O fogo brilhante, que ilumina, que encanta e transforma, que aconchega e transmite calor emocional. O nome da música é como que iluminado pelo fogo o que dá um efeito visual interessante.
Na segunda composição vemos que existiu uma evolução relativamente à primeira. O fogo já consumiu o fósforo, tendo purificado o ambiente representado primeiramente. Assim sendo, as personagens são agora um só, união de dois círculos distintos, existe unidade: “La unidade es un equilíbrio adecuado de elementos diversos en una totalidad que es perceptible visualmente.” (Dondis). Como existiu uma evolução, denotamos sequencialidade: “respuesta compositiva a un plan de presentación que se dispone en un orden lógico”; coerência: “técnica de expresar la compatibilidad visual desarrollando una composición dominado por una aproximación temática uniform” e continuidade: “una serie de conexiones visuales ininterrumpides, que resutan particularmente importantes en culquier decleración visual unificada”. Estas técnicas de comunicação visual são fundamentais no conceito queria dar relativamente à música até porque "compor é organizar com sentido de unidade e ordem os diferentes factores de um conjunto para conseguir o maior efeito de atracção, beleza e emoção”.

EM JEITO DE CONCLUSÃO/REFLEXÃO
Talvez porque a “imaginação é a visão da alma” (Joseph Joubert) senti algumas dificuldades em me exprimir visualmente numa fase inicial do projecto. Contudo, os recursos disponibilizados e a recolha fotográfica foram permitindo que eu desconstruísse o real e me fosse abstraindo. De qualquer modo, sinto que possuo agora uma sensibilidade diferente relativamente à arte, mas que pode evoluir com mais trabalho e empenho ao longo do semestre. Apesar de ter conferido um sentido muito específico relativamente à composição visual, e de ter achado importante acompanhá-la com este texto que acabou por se revelar longo, termino com um pensamento de Bruno Munari que me poderá ser útil em termos de evolução da minha percepção visual: "O maior obstáculo para compreender uma obra de arte é a de se querer compreender”.

Esperam-se novas evoluções em futuros trabalhos ou possíveis reformulações dos mesmos! Tentando sempre melhorar :)

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